terça-feira, 15 de novembro de 2022

Travessia

é de letra em letra

de sílaba em sílaba

uma palavra de cada vez
com seu devido espaço


o caminho é ambíguo
tropeçamos em vírgulas
atravessamos pontos
e perdemos palavras aprisionadas
em parênteses.


na certeza de que o meu eu do agora
é formado pela multiplicação fatorial
de tudo que já fui

serei o que não sou.


nessa travessia sou o que não fui
e serei a composição de um x-tudo do momento

com direito a queijo ralado, ervilha e goiabada.


esse poema tá virando uma gororoba
não é sobre 1+1=2
talvez sobre a conta errada

de uma divisão que resulta

num número quebrado

e tudo balança

quando a base é torta


a essa altura, só a psicanálise salva

as perspectivas voltam a se abrir

e aí percebo que estou entrando

no século XVIII da minha existência

meu iluminismo chegou


se inicia a revolução de mim mesmo

as monarquias caem 

e de tanta representação interna

descubro que aqui dentro

agora habitam planetas.





terça-feira, 8 de novembro de 2022

Um ano

há um ano
você  se foi
e eu também

abri gavetas,
armários
e achei
saudades

ainda te procurando
vaguei por ruas 
atravessei avenidas
dobrei mil esquinas
e nada!

te procurei na praia
e naquela imensidão
de céu
não te achei
inacreditável

então, esperei
a maré chegar
até mim

o amor
escorria
pelas dedos
e se misturava
a água

depois disso
literalmente
enlouqueci
olhei fixamente
para o mar
e falei:
leve esse amor
por todos os oceanos

se for preciso,
deixe-o evaporar 
até as nuvens
faça ele preencher
TUDO
até chegar
nela