imagine um louvre inteiro
só sobre você
com exposições permanentes
e outras itinerantes
no fundo
somos um museu desorganizado
de nós mesmos
no meu caso um acervo
de 41 anos sem curadoria
ramificações me conduzem
por galerias de momentos
abro uma porta
e minha avó
saltitante
está fazendo biscoitos
no outro corredor
meu pai toca piano
a sala treme blues
passei por memórias
de uma viagem para búzios
na mala do paraty
no outro salão
esculturas tortas
pinturas de um amor
inacabado
ruínas de uma infância
de um ego detonado
lembranças engasgadas
de repente o coração acelera
dispara!
pânico!
olho para os lados
em busca de
SAÍDA DE EMERGÊNCIA
todo museu que se preze
tem que ter um fuga
a porta se abre
e um divã
vivi?
minha psicanalista
a minha espera
cinquenta minutos depois
e mais questões surgem
ela encerra com um clichê
"nos vemos na próxima quinta?"
mais calmo ou não
volto para o museu
retorno ao mergulho para dentro de mim
escadas rolantes no museu?
saí do louvre e entrei no pompidou
minha vida virou instalação interativa
google fotos na parede
revelam vídeos, stories,
esse mergulho interno
é a vontade de fazer um boomerang
só de ida
e ver você entrar pela casa
falando mais que o homem do gás
e a noite acabar numa concha
numa realidade aumentada
caleidoscópio
versões simultâneas, múltiplas, invertidas
perspectivas por todo lado
tropeço em lembranças
museu de uma vida inteira
museu de uma vida só
frequentado por um único visitante
um observador de si mesmo
reflete sobre o quão louco
e absurdo é estar aqui.
com essa reflexão vou parar numa lojinha?
tudo é sobre mim?
esses museus sempre acabam em lojas
são souvenirs da minha vida
minha fita k7 preferida, uma réplica do meu walkman
o cobertor azul bolinhas brancas!
uma miniatura da beliche vermelha que eu eu maria dormimos
meus livros de poemas
minhas bermudas hot stuff
Minha coleção de pedras!
lápis com frases, apelidos que só fazem sentido para mim
desenhos? quem vai querer comprar esses desenhos?
quem vai querer comprar essas coisas?
Eu, talvez!